Movimentos populares e centrais sindicais devem assinar nos próximos dias um processo de impeachment contra o presidente Michel Temer (PMDB). A decisão foi tomada na tarde desta terça-feira (29), durante uma reunião realizada no Congresso Nacional entre parlamentares da oposição, juristas e representantes de diversas entidades.
A novidade resulta de uma articulação que vem sendo orquestrada por expoentes do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que tentam aglutinar forças de esquerda em torno da proposta de assinatura da peça processual contra Temer.
O referido pedido de afastamento deve tramitar em paralelo ao pedido já protocolado pelo Partido do Socialismo e Liberdade (PSOL) nessa segunda-feira (28) na Câmara. “Eles tomaram uma decisão isolada, que é direito deles, mas nós optamos por buscar a sociedade civil organizada porque acreditamos que, dessa forma, o pedido terá mais respaldo polÃticoâ€, avaliou a lÃder da minoria na Câmara, Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
As duas iniciativas partem dos mesmos fatos e estão relacionadas ao episódio que levou à demissão do ex-ministro da Cultura e diplomata Marcelo Calero, que pediu exoneração no último dia 18.
Calero acusou o ex-ministro Geddel Vieira Lima de tê-lo pressionado para liberar um empreendimento na Bahia, depois de a obra ter sido vetada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e ArtÃstico Nacional (Iphan). Os desdobramentos da denúncia levaram ainda ao chefe do Executivo, acusado por Calero de ter feito intervenções a favor do pedido de Geddel.
A delação foi o combustÃvel de mais um escândalo no governo Temer e culminou com o pedido de demissão de Geddel, oficializado na última sexta-feira (25). Também tem sido o catalisador das articulações da oposição rumo ao impeachment.
“Há uma crise polÃtica violentÃssima, que envolve diretamente o presidente, que cometeu crime de responsabilidade. Ele praticou advocacia administrativa, e as coisas só pioram pra ele. (…) Temer não tem condições de continuar na Presidência da República e hoje a gente conseguiu algo muito importante aqui, que é o aval dos movimentos sociais pra fazer uma coisa mais ampla, envolvendo juristas e sociedade civilâ€, disse o lÃder da minoria no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ).
Ele informou que até a próxima segunda-feira (5) as entidades devem formalizar a aceitação do pedido para assinatura da peça, que deve ser protocolada no dia seguinte, às 15 horas.
Mobilização
Durante a coletiva, Farias destacou ainda que a oposição conta com as mobilizações sociais para tentar fortalecer a iniciativa de pedido de deposição de Temer. “Vamos aquecer isso nas ruas. E nós temos duas bandeiras: ‘Fora, Temer’ e ‘Diretas já’. Não vamos aceitar nenhuma saÃda que passe por eleição indireta em 2017â€, completou.
Ele ressaltou ainda que parlamentares da oposição vão batalhar para promover mudanças na Constituição Federal de 1988 em relação à s normas que tratam de situações pós-impeachment. “Hoje a Constituição diz que, se o presidente for deposto nos dois primeiros anos [de mandato], há eleição direta e, se for nos dois últimos, será indireta. Nós queremos mudar para ficar apenas o último ano nessa condiçãoâ€, explicou o senador.
Ele argumenta que a alteração está relacionada ao respaldo polÃtico das urnas. “O paÃs está numa crise polÃtica, econômica e social do tamanho do mundo. Só tem um jeito de dar força a um Presidente da República: legitimá-lo nas urnas. Aà depois você pode aplicar um projeto, seja ele qual forâ€, sustentou o lÃder.
A oposição tem se movimentado nos últimos meses no sentido de sedimentar a bandeira de uma nova eleição presidencial. “Precisamos lutar pelo impeachment e evitar que uma manobra seja feita para colocar como saÃda da crise a eleição indireta de um novo presidente. (…). Nós já vivemos um impeachment sem crime. Só falta agora um crime de fato sem um pedido de impeachmentâ€, afirmou o deputado Henrique Fontana (PT-RS), em tom de ironia.
Movimentos
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está entre as entidades que serão signatárias do pedido de afastamento. “Nós entendemos que é preciso assinar por três motivos: porque houve crime de responsabilidade; porque estamos num governo golpista, de retirada de direitos; e também porque o pedido de impeachment abre um amplo debate com a sociedade sobre os rumos da nossa democracia, portanto, o MST vai apoiarâ€, antecipou Alexandre Conceição, membro da direção nacional da entidade.
Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Temer deveria renunciar ao cargo. “O Brasil precisa voltar à normalidade polÃtica. Nós entendemos que, se o presidente tiver um ar de civismo e quiser mesmo resolver os problemas do paÃs, ele deveria renunciar e convocar eleições diretas. Ele não foi eleito e o impeachment da presidenta Dilma, na nossa visão, foi completamente fora do padrão. E, agora, além de não ter legitimidade para exercer o poder, ele também não tem legalidadeâ€, declarou o presidente nacional da entidade, Vagner Freitas, em referência à s denúncias de Calero.
Governo
Até o momento, Michel Temer ainda não se pronunciou oficialmente a respeito dos pedidos de impeachment. No Congresso, a estratégia da base aliada tem sido no sentido de minimizar os movimentos da oposição, enquanto são mantidas as articulações para aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que institui o Novo Regime Fiscal, da reforma do ensino médio e de outras iniciativas governistas.
Edição: José Eduardo Bernardes